Melhor amizade

21:33

Eu estava vendo a série que costumava ser a minha favorita, ela era uma das minhas maiores ligações com o mundo. Eu me via como os personagens. Bem, acho que o principal motivo que essa tenha sido uma das únicas coisas da minha vida que eu não desisti depois de um tempo (eu ainda vejo os episódios quando são lançados) é porque sinto falta dessa conexão. Parece meio complicado de entender, acredite é difícil de explicar. Acho que toda a minha mente teria que ser exposta aqui para que algo realmente faça sentido. 

Eu nunca fui uma pessoa de muitos amigos. Eu sempre precisei escrever para ficar próxima das pessoas, isso porque todas elas estavam detrás de uma tela de computador, assim como eu. Durante a minha vida eu vivi em apenas três lugares: em São Paulo até em ter dez anos de idade, em Minas Gerais por dois anos, no Rio Grande do Sul durante alguns dias de férias, e voltei para São Paulo onde estou hoje. 

Digamos que Minas Gerais foi uma das piores épocas da minha vida, mas eu realmente amava estar lá. Eu não tinha amigos, eu tinha especificamente um, o nome dele é Gustavo. E a minha volta tinham os grupinhos (acho que a palavra certa é panelinhas), e não é novidade de uma criança novata e que não entendia de nada, que eu não me encaixei nesses grupos. Acontece que era uma cidade pequena, acredite o bairro que eu moro agora tem mais população que aquele fim do mundo, e eles se achavam poderosos, eles eram. Dentro do mundo limitado deles, eles com certeza eram o máximo! Mas eu não era de lá e por conta disso eu sofria bullying. Eu tive uma amiga chamada Isabella, era parou de falar comigo por causa de uma menina que fazia comentários maldosos de mim e que era melhor amiga dela. Dá para acreditar que meninas de onze anos zoavam outras por não usarem sutiã? Mas a ficha caiu, e percebi que eu estava sendo usada por um grupo para atingir o outro, menos o Gustavo (que até hoje é um dos meus melhores amigos). Isso me leva a segunda parte:

São Paulo. Voltei para a cidade grande e entrei na sétima série de uma escola pública. Eu não estava muito acostumada com o sistema de educação público, e não era apenas uma sétima série, eram várias. E a divisão de panelinhas era ainda maior, e bem mais complexo. Mas dessa vez eu não deixaria as coisas saírem do controle, eu seria como as meninas legais de MG e teria amigas legais em São Paulo. Quase certo, eu por um período fiz parte de um grupo grande, pelo menos o maior que eu tive até o momento; uma menina com a sua melhor amiga vieram falar comigo antes dos professores chegarem na sala, e com outras meninas novas, nós todas viramos amigas. Mas eu ferrei com tudo. As pessoas de Minas eram maldosas, e eu me tornei uma delas, e foi a pior coisa que eu já fiz na minha vida: cyberbullying. 

Precisarei dar nomes para continuar essa história, a menina irá se chamar Karina, a melhor amiga dela será Lara, e tem também um menino, Leonardo. Esse menino foi simpático comigo no primeiro dia, e sabe, ninguém nunca tinha sido tão legal comigo assim, eu estava acostumada a ser mal tratada pelas outras pessoas, ser zoada, mas ele foi tão bom, e eu comentei com a Karina como eu me sentia em relação a ele e pedi segredo. Não que eu gostasse dele, mas tinha criado um carinho. Bem, a menina não guardou segredo, ela contou para sua melhor amiga, a Lara, mas distorcendo o que eu tinha dito. Eu fui mentalmente pressionada pela Karina a ficar com o Leonardo. E então, ela disse à Lara que eu tinha ficado com o menino que ela gostava e que eu sabia disso. 

Deu para entender mais ou menos o que ocorreu? Eu fiquei com muita raiva, e a Lara ao saber que a Karina tinha feito isso parou de falar com ela, e nós duas nos tornamos melhores amigas. Mas eu estava com tanta raiva. E tinha sido o meu primeiro beijo, e eu achava que agora eu gostava desse menino. Então eu criei um fake no facebook e postei montagens de fotos comparando ela com animais. Muitas pessoas ficaram chateadas comigo e meus pais nunca ficaram sabendo de nada disso, espero que eles não leiam isso agora.

Lara continuou sendo a minha amiga, e agora tinha mais uma pessoa, e nós três eramos o trio maravilhoso de qualquer história, foi no ano seguinte que eu criei o blog, e de repente eu estava tendo visitas, e comentários, e eu estava amando tudo isso. O blog cresceu numa velocidade impressionante, e eu comecei a valorizar ainda mais a internet e os meus amigos virtuais. Lara e o meu amigo não gostaram muito disso, disseram que eu estava sendo uma pessoa nojenta, eles se afastaram de mim. E eu fiquei sozinha. Eu estava lidando bem com a solidão, eu já tinha ficado assim antes, mas então a vitima fui eu. Esse meu ''amigo'' criou um status no facebook querendo me dar uma lição de moral, ele disse coisas horríveis de mim, várias pessoas comentaram e disseram coisas ruins sobre mim, e houveram realmente muitas curtidas, e eu não comentei absolutamente nada sobre isso, mas eles não paravam, e os comentários vinham falando mais mal ainda de mim. Eu fiquei sozinha, humilhada e com depressão por semanas. Acho que o que mais doeu é que eles eram meus amigos. Eu tive a minha válvula de escape no blog, e em uma menina muito legal que me deu uma base para chorar. 

Nós duas não eramos realmente amigas, a gente era bem afastada, mas naquele momento ela foi a única pessoa que falava comigo e também a única que havia me defendido. E eu achava ela tão incrível. Ela era como aquelas meninas alternativas super legais que você vê em filmes americanos. E nós duas eramos tão compatíveis, como peças de um quebra-cabeça. Hoje em dia, eu acho que não quero mais vê-la, mas não posso deixar de agradecer pelo futuro que ela me deu.

Era como se eu estivesse encolhida num buraco escuro, e então ela me ajudou a me levantar e seguir em frente. Ela me mostrou uma nova perspectiva de tudo. E fomos descobrindo que gostávamos de muitas coisas iguais, como essa série que eu mencionei no inicio... Sabe o companheirismo que vemos em alguns irmãos gêmeos ou verdadeiras melhores amigas nos filmes, eu sentia que nós duas eramos assim. E que nada poderia separar a gente.

Mas acho que quando uma personalidade muda, os interesses mudam também. 

A personalidade dela mudou, ela criou interesses, elas se empenhou em uma causa de vida, ela conheceu novos grupos de pessoas, e com isso os interesses dela mudaram. E eu entendo isso, só lamento por não ter conseguido acompanhar ela. E agora todas as perspectivas que eu tinha conseguido na minha vida por causa dela, sumiram, o que é realmente um problema, porquê ainda era uma base. E eu nem sei mais se o blog é o que eu quero, ou se jornalismo é o que eu quero. Ou se eu ainda quero conhecer o mundo. 

Acho que nesse momento tudo que eu queria era um amigo. 
Sabe? Daqueles que você ri junto, chora junto, faz um livro do arraso, e outras coisas... Eu só sinto tanta falta disso tudo. Que eu tenho medo de estar me encolhendo no buraco profundo de novo.

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